Definição
Praticantes das mais variadas atividades físicas podem apresentar esta queixa, porém, sem sombra de dúvidas, os mais frequentemente acometidos são os corredores.
Geralmente se inicia com um leve desconforto, eventual, que não compromete o rendimento nem tampouco requer o uso de medicações. Com o passar do tempo, torna-se uma dor intensa, presente em todos os treinamentos e que, mesmo usando variados analgésicos e anti-inflamatórios, persiste e interfere drasticamente no desempenho esportivo.

Dor na perna é o sintoma que mais afasta os corredores dos treinos.
Infelizmente, somente neste momento a maioria dos esportistas busca ajuda profissional.
O problema é que muitas vezes este atraso na procura pelo médico permite que a lesão se torne grave. Ou seja, o que anteriormente poderia ser tratado com simples adaptação do treinamento e sem afastamento do esporte, agora exige longos períodos de reabilitação, tratamentos mais agressivos (como cirurgias), gastos maiores e distância de provas e competições.
Há diversos diagnósticos possíveis e um amplo espectro de gravidade para este sintoma de dor na perna do atleta. A seguir, serão brevemente expostas as principais causas.
“Canelite” ou estresse tibial medial
Condição em que há o desenvolvimento de uma reação inflamatória no principal osso da perna, a tíbia (osso da canela), devido ao impacto repetitivo. Este processo inflamatório pode ocorrer tanto na membrana que recobre o osso (periósteo) como na porção interna do osso.
Costuma haver dor na região mais inferior da tíbia e com maior frequência na parte interna, acima do tornozelo.
Alguns fatores tem sido associados a esta lesão: sexo feminino, pisada pronada (“pé chato”), índice de massa corporal (IMC), técnica de corrida, volume de treino e outros.
Fratura por estresse
Pode ser considerada a evolução indesejável de uma “canelite” negligenciada ou tratada inadequadamente.

Fratura por estresse da tíbia (osso da canela) identificada por Ressonância Magnética. A linha branca no interior do osso preto representa a fratura.
Dependendo da região onde ocorre, pode requerer afastamento completo das atividades por um período ou mesmo tratamento cirúrgico.
Muito comum estar envolvido como fator causal erro de treinamento e/ou de preparação complementar (oferta de nutrientes, ausência de descanso, etc).
Lesões músculo-tendíneas
Estiramentos da musculatura da panturrilha e do tibial anterior também geram dor na perna e, quando mal tratadas, podem ter caráter persistente e confundir-se com os demais diagnósticos.
O mesmo ocorre com a tendinopatia do tendão de Aquiles, extremamente frequente e muito limitante.
Síndrome compartimental crônica
Todos os grupos musculares, juntamente com os vasos (artérias e veias) e nervos que os acompanham, são circundados por “películas” chamadas de fáscias – a este conjunto se denomina compartimento.
Ocorre que, especialmente durante exercícios de longa duração, estas fáscias possuem uma capacidade de se distender menor que a dos músculos, passando a comprimí-los e isto desperta uma dor intensa.
Geralmente, a dor aparece na fase final do exercício e melhora completamente com o repouso, mesmo após poucos minutos de interrupção.
Causas neurovasculares
Alterações anatômicas de certos vasos e nervos da perna podem ser responsáveis por quadro de dor importante e devem ser excluídas.
É extremamente importante a avaliação da coluna lombar e região glútea profunda, pois compressões nervosas nestes locais geram dor na perna mesmo sem qualquer sintoma no local de origem.
Diagnóstico e conduta
Uma história clínica detalhada associada ao exame físico meticuloso define o diagnóstico na maioria das vezes.
Exames complementares de imagem são muito relevantes para a confirmação diagnóstica e exclusão de causas concomitantes, para identificar o grau da lesão, pesquisar fatores predisponentes, estimar o tempo de recuperação e documentar a resolução antes do retorno aos treinamentos intensos.
Avaliação laboratorial deve ser solicitada caso seja necessária investigação do status metabólico do paciente.
A conduta varia em cada caso e, visando o menor prejuízo possível para o treinamento, depende de franca relação interdisciplinar da equipe de apoio. Médico, fisioterapêuta e treinador / educador físico devem estar próximos e em harmonia. Muitas vezes a participação do nutricionista e psicólogo são essenciais.
Por ser um sintoma extremamente comum, a maioria dos esportistas tende a não valorizar a queixa de dor na perna e isto pode comprometer seriamente as chances de sucesso do tratamento. O mais importante é buscar auxílio profissional precocemente!